Já o terceiro encontro e tema deste texto, aconteceu no dia 28/08/2020, nele tive a honra de conversar com Carlos Kazê Fraga², que é artista visual da APBP, atleta de power soccer, mergulhador da SBMA (Sociedade Brasileira de Mergulho Adaptado) e autor do livro "Vinte anos e dois meses depois".
Conversamos sobre diversos aspectos da arte, tais como os materiais, o estilo, o processo criativo, mas decidi destacar neste texto o tema do cartão de visita do Kazê: "arte sem limite".
Lendo o trecho acima e pensando em nossas experiências de vida, do Kazê e minha, eu poderia, por analogia, pensar que é possível mexer com meus limites ao aumentar minhas necessidades, criando o que Jallaludin Rumi chamou de "órgãos da percepção"? Em uma espécie de amadurecimento, de crescimento, de amplificação, pensando sob os aspectos corporais, sensoriais e cognitivos (mente e intelecto)?
Penso que na arte, com a limitação dos materiais, nos desafiamos a cada instante, seja trabalhando com a viscosidade da tinta, ou na excessiva fluidez da aquarela ‒ que eu chamo de desobediência ‒, ou ainda, com a dureza do grafite. No meu caso, isso desperta criatividade, me sinto desafiada!
No caso da deficiência visual a limitação está relacionada à recepção e/ou percepção da imagem, penso que se eu me fixar neste limite, seria como se me acomodasse ao esperado à condição de deficiente e, dessa forma, o limite é entendido como uma barreira, muitas vezes intransponível. Entretanto, há a possibilidade de entender esse limite sensorial como um desafio.
Nessa lógica, cito Nachmanovitch (1993, p. 84) quando ele diz que "trabalhar dentro dos limites impostos pelo meio nos obriga a mudar nossos próprios limites" e que podemos escolher o convencional ou usá-los como meio real de superação. Eu, particularmente, escolho a segunda opção, e pelo visto, esta também foi a escolha do Kazê.
Ainda estudando o capítulo "O poder dos limites" do livro "Ser Criativo" escrito por Stephen Nachmanovitch (1993), li que "existe uma palavra francesa, bricolage, que significa criar alguma coisa a partir do material que se tem à mão" e que "bricoleur é um artista dos limites" (p.85).
Em uma sociedade do consumo vendeu-se a ideia de que o segredo da arte está no instrumento novo, de ponta, e da técnica X ou Y. Pelo que eu vivi e li, penso que o artista deve ter um quê de bricoleur, ter uma atitude artística, ouvir sua alma, ser livre, daí qualquer instrumento ou técnica se tornam extraordinários. Entendo que materiais refinados, de qualidade e o conhecimento da técnica são importantes, mas se tudo estiver posto e pronto, o que há para criar?
Por isso digo que o céu não é o limite e o universo é o meu jardim!!! A criação artística me leva aonde o meu corpo não consegue chegar...
Negociar com nossos limites para alcançar a liberdade requer fé e coragem! A fé nos dá a esperança para sonhar e a coragem nos dá a força para buscar a felicidade.
Você quer saber mais sobre a live "Arte & Inclusão: arte sem limite"? Passa lá no canal do YouTube Chris Brazil - vida e arte, assista a este e a outros vídeos clicando aqui, conheça mais sobre nós e amplie sua percepção sobre arte e inclusão. Será um prazer ler seu comentário!
Sou grata por esta oportunidade e por você ter doado um pouco do seu tempo lendo estas palavras.
Seja Feliz e que teus sonhos sejam tua realidade.
Até a próxima!!!
Notas:
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Referências:
NACHMANOVITCH, Stephen. Ser Criativo – o poder da improvisação na vida e na arte. Tradução de Eliana Rocha. São Paulo: Summus, 1993.