![Uma mulher de vestido longo entra em uma enorme porta. (desenho em grafite)](https://static.wixstatic.com/media/dbc597_7cff198e7fca47189ea822d45b919919~mv2_d_3503_2427_s_4_2.jpg/v1/fill/w_980,h_679,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/dbc597_7cff198e7fca47189ea822d45b919919~mv2_d_3503_2427_s_4_2.jpg)
– Oi menina. Faz tempo que não te vejo por aqui.
– Pois é... Voltei.
– Na verdade, acho que você não se foi. Sempre esteve aqui. Estava apenas adormecida.
– Estava vagando, sem rumo, como uma pena em um vendaval.
– Do que precisas?
– De Colo...
– Isso você sabe que não posso te dar... mas te conhecendo como conheço, ofereço te algo melhor... – apontando para uma porta diz: – Olhe lá.
– É uma porta!? Está trancada!!! – diz ao tentar abri-la.
– Na verdade, te faço um convite...
– Mas onde está a chave?
– Você é a chave...
* * *
Em diversas culturas a porta simboliza “o local de passagem entre dois estados, entre dois mundos, entre o conhecido e o desconhecido” (CHARTIER, 2003, p.734), entretanto “a porta se abre sobre um mistério” (idem), tendo valor dinâmico (passagem/travessia) e psicológico, “pois não somente indica uma passagem, mas convida a atravessá-la. É o convite à viagem rumo a um além...” (pp.734-735).
Acredito que o Homem tem bem definido seu Destino: “consiste em caminhar, passo a passo, para o conhecimento do mundo onde foi lançado, para a interpretação do mistério que o rodeia” (D’HUMIAC, 1964, p. 13). A todo instante somos convidados a novas aventuras, desvendar mistérios magníficos, mas cabe a nós escolher viver e como ter/ver/interpretar estas experiências, nossas escolhas segundo D’Humiac (1964) fazem uso de dois instrumentos: a Razão e a Imaginação.
A Razão verifica a existência dos fatos, classifica-os, compara-os e deles procura deduzir as leis determinantes. Mas não conseguiria por si só: muitas anomalias perturbam a sua lógica, e muitos arcanos, onde ela não pode penetrar, deixam aqui e além, grandes lacunas na sua observação. É a imaginação que vem, pois, em seu auxílio, por uma espécie de pré-ciência, apreendendo, entre as coisas, relações quase imperceptíveis, que a Razão não pôde ainda atingir. A imaginação voa com as asas de chamas, que rasgam, na noite, caminhos de luz, iluminando assim o Invisível e apontando a Verdade futura, isto é, a Verdade entrevista, da qual é preciso procurar a demonstração” (D’HUMIAC, 1964, p.13).
Caro leitor, estamos em uma nova empreitada, com novas aventuras: casos & causos relativos à Inclusão. Como você percebeu, agora temos outras ferramentas: textos, fotos, vídeos...
Convido-te a ver com meus olhos, em um olhar que não se restringe à acuidade visual. Quando olho algo, não uso apenas a visão. Meu olhar engloba os cinco sentidos - visão, audição, olfato, tato e paladar – comuns a todos os seres humanos, mas que em minha opinião, quem tem um déficit de visão vê/sente/está o/no Mundo de forma diferente.
Não canso de fazer alusão a Carlo Ginzburg, quando este descreve o Paradigma Indiciário que, em resumo é a utilização de pistas, sinais, indícios, por vezes infinitesimais aos olhos dos que estão desatentos. Como o caçador que reconstrói “as formas e movimentos das presas invisíveis pelas pegadas na lama, [...] odores estagnados. [...] Aprendeu a fazer operações mentais complexas com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou numa clareira cheia de ciladas” (GINZBURG, 2009 p.151).
Talvez a diferença do meu “olhar/sentir/estar” o/no Mundo, esteja na capacidade de abstrair e compor a realidade, com uma escuta refinada aos sentidos, cuidadosamente atentos e aliados a uma sensibilidade e capacidade de usar as asas flamejantes da imaginação, transformando o infinitesimal em um mundo de possibilidades.
O mesmo convite que recebi, faço a você: – vamos abrir a Porta?
O que tem do outro lado?
Espero você em minhas próximas publicações, com novos escritos, e para aquele que ainda não leu, publicarei textos antigos revisados.
Que teus sonhos sejam tua realidade...
Boa semana!
Notas:
*Imagem by Christina Brazil (17/01/2017)
Referências:
CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos: (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 18ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.
D’HUMIAC, Michaud. As Grandes Lendas. In. ANTOLOGIA DA LITERATURA MUNDIAL. Lendas famosas e outras páginas. Seleção, tradução e notas de Nicolau Bruno. São Paulo: Livraria e Editora LOGOS Ltda., 4ª ed., março de 1964.
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas, Sinais. Morfologia e História. São Paulo: Cia. das Letras. 2.ed. 2009.
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