Christina Brazil
A Roseira.
Atualizado: 7 de jan. de 2022
Em um verão atipicamente chuvoso nas montanhas de Minas Gerais, fui visitar o chalé de um amigo. Assim que cheguei, como de costume, apreciei as roseiras do terreno. Neste dia, em especial, elas estavam encharcadas.
Ao perceber que eu estava contemplando as flores, meu amigo se aproximou e me contou a história das mesmas. Ele disse que as primeiras roseiras vieram de uma pousada da região, e que, certo dia, ao se hospedar lá, viu as roseiras no chão para descarte, já que os canteiros seriam acimentados. Meu amigo contou que não pensou duas vezes, conversou com o dono da pousada e adotou as roseiras.
Ele contou também que as roseiras resgatadas geraram filhas e netas e que, aos poucos, plantando-as em torno da casa, faltava pouco para fechar o círculo.

Conforme meu amigo mostrava orgulhosamente as flores, eu percebia os detalhes da preciosidade da natureza, desde as gotas de água nas pétalas, as cores vibrantes das rosas vermelhas ou as delicadas, das flores cor de rosa, sentindo o perfume suave que persistia, mesmo com o banho de chuva.
Em um dado momento da conversa, senti algo mágico e forte vindo daquele quase círculo de roseiras. E nesse instante, lembrei do “Estopim dourado” descrito por Clarissa Pinkola Estés no livro A Ciranda das Mulheres Sábias (2007), nele, ela diz que:
Toda árvore possui por baixo da terra uma versão primeva de si mesma. Por baixo da terra, a árvore venerável abriga "uma árvore oculta", feita de raízes vitais constantemente nutridas por águas invisíveis. A partir dessas radículas, a alma oculta da árvore empurra a energia para cima, para que sua natureza mais verdadeira, audaz e sábia viceje a céu aberto (p. 20).
Por vezes não conseguimos descrever em palavras a plenitude de alguns momentos, mas é certo que percebi, de alguma forma, a força daquelas raízes.
Ao estudar para escrever este texto, li que “a rosa e o lótus correspondem, não somente ao sol, mas, também ao coração do homem, ao rei ou governante, e à alma” (AMORC, 1982, p.182).
E aí, mais uma vez cheguei, não só ao coração, mas à Alma humana. Algo com tantas camadas de sentido, um vasto campo simbólico e que, segundo Hillman (1993), “a ‘alma’ não é realmente um conceito, mas um símbolo” (p. 58).
Agora faço um convide a você, amigo leitor e amiga leitora!
Separe um tempinho para sua Alma, relaxe como lhe for conveniente e pense:
Se a alma é um símbolo, como você interpreta sua alma?
Talvez não consiga sintetizar em palavras, eu não consegui, mas você pode desenhar, pintar, esculpir, bordar, não há modelo de Alma, nem material preestabelecido. E ideia é dar voz a ela.
Para terminar o texto de hoje e te instigar a pensar sobre a simbologia da Alma, cito o Dicionário de Símbolos, no qual há a afirmação de que “as representações da alma são tão numerosas quanto as crenças que sobre ela existe” (CHEVALIER, 2003, p.31).
E as roseiras? Ah... elas me mostraram que
é fácil perder o vínculo entre a natureza interior e exterior. O convívio com sentimentos que estabelecem um contato conosco mesmos, com o corpo, com a psique, com os próximos e também com o mundo em geral precisa de tempo (KAST, 2016, p.11).
Mas que podemos resgatar esse vínculo!!! E naquele instante eu me conectei e equilibrei a minha natureza interior e exterior.
Desejo a você, amigo leitor e amiga leitora, Paz e Sabedoria em sua Jornada, que seus passos sejam guiados pelo o que há de bom, bem e belo no Universo.
Até o próximo texto!
Referências
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos: (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 18ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.
ESTÉS, Clarissa Pinkola. A Ciranda das Mulheres Sábias. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
KAST, Verena. A Alma Precisa de Tempo (Coleção Reflexões Junguianas). Petrópolis: Vozes, 2016.
HILLMAN. James. Suicídio e Alma. Petrópolis: Vozes, 1993
ORDEM ROSACRUZ – AMORC. Introdução à Simbologia. Curitiba: Grande Loja do Brasil - Ordem Rosacruz, 1982.