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Foto do escritorChristina Brazil

Não me querem aqui!

No dia 16 de setembro de 2020, aconteceu o sétimo encontro on-line inclusivo no meu canal do YouTube ‒ Chris Brazil - vida e arte ‒ com o tema "Arte & Inclusão: as dimensões política, estética e estésica do direito à vida" (assista clicando aqui), cujas convidadas foram as professoras doutoras Erika Leme (UFF) e Michele Fonseca (UFRJ).

 Arte de divulgação da Live da Chris Brazil - Vida e Arte, cabeçalho com título "Arte e Inclusão: as dimensões política, estética e estésica do direito à vida" sobre o fundo de lápis coloridos enfileirados. Abaixo, a Chris Brazil e as participantes Michele Fonseca e Erika Leme, cada uma com sua respectiva foto. Nas laterais, à esquerda a logo do LEPIDEFE e á direita, a logo do LaIFE.
Arte de divulgação da live Arte & Inclusão

O tema dessa live surgiu por causa da polêmica em torno do Decreto n. 10.502 promulgado no dia 30 de setembro de 2020 (leia o Decreto na íntegra clicando aqui), por esse motivo, este encontro tratou de um assunto um pouco diferente dos anteriores e contou com a mesma seriedade e leveza de sempre.

Embora o Decreto n. 10.502/2020 tenha gerado a urgência do encontro, ele não foi o foco principal, a conversa ficou em outras camadas de sentido, anterior e mais profundas que a legislativa, nas quais sob a ótica dos conceitos de "Formação Cultural" e de "Cultura Corporal do Movimento" fomentaram e embasaram o debate.

Cabe ressaltar que discutir o conceito de vida nos remete a pensar as dimensões ética, estética, estésica, filosófica, política, não podendo, a vida, ser resumida apenas à concepção social, ela precisa ser protegida por um campo mais amplo de percepções e tudo isso precisa ser acolhido pela política.

Voltando ao polêmico Decreto, inconstitucional, n. 10.502/2020, uma de nossas preocupações é em como a sociedade e escola concebem e percebem a deficiência, sendo importante frisar que a escola é o reflexo da sociedade, de como interpretamos o mundo e de como interpretamos o outro, quer ele tenha deficiência ou não.

Dentre muitos pontos importantíssimos problematizados, trago à tona o desabafo que fiz durante a live: uma parcela da sociedade "não me querem aqui".

Sim! Uma parcela da sociedade não me quer! Parece forte? Dramático?

Reafirmando que a escola é o reflexo da sociedade, de sua cultura, de sua prática e de sua política, trago como exemplo parte de um texto que publiquei em 2015 (BRAZIL, 2015) e que, se a segregação tomar o lugar da inclusão, infelizmente o que escrevi será potencializado...

Toc toc! – Com licença. Posso entrar?

Chris Brazil, mulher de pele clara, cabelos lisos e castanhos, está usando com um vestido e sapatos rosa claro. Chris está falando ao microfone de pé em cima de um tablado acarpetado cinza escuro. Ao fundo, um grande cartaz branco com uma faixa laranja e a imagem dos rostos dos participantes do evento.
Chris Brazil no evento "Palestrante PCD" em 2015.
Em setembro de 2015 participei de um projeto chamado Palestrante PCD, esse projeto tinha como objetivo sensibilizar e provocar transformações na sociedade por meio de palestras, cursos e/ou oficinas, com a ideia de formar novas opiniões sobre a pessoa com deficiência, bem como sua atuação na sociedade e no mercado de trabalho. Para marcar o inicio oficial do projeto, na sexta-feira, dia 18 de setembro de 2015, foi realizado um evento no qual onze palestrantes foram convidados a apresentar seus trabalhos.
Eu rascunhei uma apresentação que subscrevo abaixo:
Bom dia a todos.
Antes de qualquer coisa, agradeço por estarem aqui.
Gostaria de sair do lugar comum e iniciar com uma questão:
Algum dia os senhores(as) estiveram em uma casa em que não eram desejados ou bem vindos?
Pois é... eu já estive.
Estar em um lugar sem ser desejado ou esperado, hoje, é a realidade de muitas pessoas com deficiência. Isso acontece porque a Lei de Cotas “obriga” a inclusão. O que é um contrassenso... Mas não vamos nos ater á questões conceituais hoje.
(pausa para um sorriso e uma olhadela na plateia. – Ops! – Para sentir a plateia, melhor dizendo.)
Estive em uma casa em que não era bem vinda. Essa estada representou uma das experiências mais importantes e ricas da minha vida. Nessa casa vi todos os fantasmas que uma Pessoa com Deficiência pode ter... o estigma, preconceito, exclusão, a inclusão perversa e tantos outros...
No ultimo dia de minha estada nessa casa uma pessoa, com certo tom de indignação, me disse:
– Eu não entendo. Quando as pessoas vão embora elas ganham um tchau e você ganhou duas festas... – Ah! Isso fora as emocionantes mensagens de despedida... que essa pessoa não viu.
(Pausa com sorriso, olhando para a plateia.)
Os senhores(as) devem estar curiosos. Estou certa?
As empresas e instituições são formadas por pessoas.
Vou contar meu segredo: Costumo brincar que com um sorriso e um bom dia eu posso mudar o mundo... Tocando os corações e principalmente focando nos valores... na cultura.
Nessa casa em que estive, também experimentei uma das minhas melhores experiências: mergulhar no mais fundo abismo e retornar à superfície trazendo comigo esperança para todos que me cercavam. Sim... para todos! Todas as pessoas têm medos, cada qual em sua especificidade. Não importa. Mostrar que é possível, superar as adversidades, as barreiras, é mudar o mundo, nem que seja uma pequena parcela dele. É dar esperança a quem nos cerca.
Mas isso exige um esforço e luta “48 horas por dia”, para provar para o mundo que se é “normal”, para depois mostrar a diferença entre deficiência e dificuldade.
Pois é..., costumo dizer que não sou deficiente, apenas tenho dificuldade para enxergar... o que em termos de resolução significaria dizer que, o que vocês veem a 50m eu vejo a 1m. Mas isso não me desqualifica. Só não é aconselhável pedir para eu tomar conta de uma prova sozinha... Imaginem a felicidade dos alunos...
O meu primeiro “não”, “ela não pode”, foi por volta dos cinco meses de idade... e depois desses, muitos vieram. (pausa)
Eu nunca repeti de ano na escola, tenho duas faculdades, especialização, mestrado, trabalho em outro município, moro sozinha...
A inclusão é uma ação coletiva e exige uma mudança de valores, de atitudes e de cultura. A Inclusão real é possível.
Refine seu olhar e verás que a atitude é tudo.
Obrigada por estarem aqui e por apostarem em um mundo melhor.

Até quando teremos que nadar contra a maré em busca do direito à vida, de uma vida justa, saudável e feliz?

Não querem as crianças com deficiência nas escolas com todas as crianças!

Não querem as pessoas com deficiência trabalhando dignamente com todas outras!

Uma parcela da sociedade não me quer aqui!!!

Você quer saber mais sobre a live "Arte & Inclusão: as dimensões política, estética e estésica do direito à vida"? Assista ao encontro na íntegra clicando aqui.

Passa lá no canal Chris Brazil - vida e arte, assista a esse e a outros vídeos, conheça mais sobre nós e amplie sua percepção sobre arte, inclusão e educação. Será um prazer ler seu comentário!

Sou grata por esta oportunidade e por você ter doado um pouco do seu tempo para ler estas palavras.

Seja Feliz e que teus sonhos sejam tua Realidade.

Até a próxima!!!


 

Referências:

BRASIL. Decreto n. 10.502 de 30 de setembro de 2020. Presidência da República Secretaria-Geral - Subchefia para Assuntos Jurídicos, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10502.htm Acesso em 15/10/2020.

BRAZIL, Christina Holmes. Toc toc! – Com licença. Posso entrar? Site Inclusão: casos e causos (Tumblr). Publicado em 21 de setembro de 2015, 2015. Disponível em: https://inclusaocec-blog.tumblr.com/post/129578952290/toc-toc-com-licen%C3%A7a-posso-entrar Acesso em 17/10/2020

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