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  • Foto do escritorChristina Brazil

Pensando sobre meus “limites”.

Atualizado: 8 de jul. de 2022


Uma face, na qual, do centro da testa, saem raios de luz, raios amarelos, verdes, e azuis. O fundo da imagem tem a borda violeta e a parte inferior rosa. As cores se fundem como energias.(desenho em pastel seco)

– Oi. Sabia que ia te encontrar aqui hoje. Vi que comprou livros novos...

– Mas eu ainda não os li. Estou encafifada com uma coisa que li.

– Gosto disso! O que você leu?

– Tenho pensado nos meus “limites” e em minhas leituras me deparei com um excerto de Jallaludin Rumi, onde diz que “Novos órgãos da percepção passam a existir em consequência da necessidade. Portanto, ó homem, aumenta tuas necessidades e poderás expandir tua percepção.”[1]

– Mas em que contexto você vê esses “limites”?

– Calma! Não acabou... mais adiante, no mesmo livro, o autor escreve que “trabalhar dentro dos limites impostos pelo meio nos obriga a mudar nossos próprios limites. Improvisar não significa romper com formas e limitações apenas para se sentir ‘livre’, mas usá-las como um meio real de superação.”[2]

– Você está pensando em sua deficiência?

– Mais que isso meu caro... Estou repensando a vida.

– Posso pegar um café e sentar? Já vi que nossa conversa vai ser instigante.

– Sim, claro! Fique à vontade!

...

– Pense que sua vida é um grande rolo de papel em branco, e que a cada momento, enquanto o papel se desenrola lhe é dado uma série de instrumentos: lápis, tintas e muitas outras coisas. Os lápis representam seu livre arbítrio, com eles você desenhará no papel, deixará sua presença no mundo.

– E como se encaixam os limites nesse contexto?

– Feche seus olhos. Se imagine do tamanho de uma formiguinha e você está perdido neste grande rolo de papel...

– Nossa!!! Angustiante! Sinto como se estivesse em um deserto de papel.

– Quais são seus limites?

– Todos!!! (risos)

– Pois é... podemos pensar os “limites” sob o viés social, coletivo. Podemos vê-lo sob a ótica física, material e orgânica. Ou também com o olhar da psique, da mente.

– E a formiga? (risos)

– Qual é o maior sonho da formiga?

– Sair do papel? Ser livre? Ser feliz?

– Boa!!! Pois é, lendo o livro A Arte da Felicidade[3], vi o seguinte trecho: “com a mobilização dos nossos pensamentos e a prática de novos modos de pensar podemos remodelar nossas células cerebrais e alterar o modo de funcionar do nosso cérebro”. Essa é uma das formas de romper nossos limites. Acredito que seja a mais eficaz de mudar nossos limites.

– Mas a formiga continua no papel!? ( dando de ombros)

– E é provável que ela nunca saia de lá, ao menos viva. Mas não vamos nos alongar a respeito da vida espiritual da formiga.

– Como assim!?

– Os limites existem, de uma forma ou de outra eles sempre estarão lá. Como seria a vida da formiga se ela não enxergasse?

– Ela não veria que o papel é branco e não saberia seus limites. Não saberia o que fazer com os lápis e tintas...

– Só isso? Olhe àquela parede ao final da sala. O que você vê?

– Uma parede azul!?

– E depois da parede?

– Nada! Só vejo a parede. Não tenho visão de raio X!

– Exercite sua mente...

– ???

– Descubra!

– Como?

– Essa é a questão!!! Não é o fato de não ver. É o que você faz com o que você tem e com o que lhe falta. Como você pensa a vida e seus limites. Existem muitas formas de descobrir o que fazer na folha, mas não fomos educados a pensar o que e como fazer. Simplesmente não sabemos usar o que nos é oferecido. Mas o que há atrás da parede...? Olhe pela janela...

– Você me deixa envergonhado.

– Quanto a nossa amiguinha formiga, acho que ela deverá aprender a usar os instrumentos que lhe forem oferecidos ao longo de sua jornada de vida... Ela deverá ter disciplina e com a prática aprenderá a criar e se recriar. E enquanto o tempo fluir, ela desdobrará a consciência de si e do(s) outro(s). “Ser, atuar, criar no momento presente [...] pode proporcionar um supremo prazer, mas também pode dar medo. Dar um passo para o desconhecido pode levar à alegria, à poesia, à invenção, ao humor, a amizades para toda a vida, à realização pessoal”...[4].

– As vezes acho que estamos tão perdidos em nós mesmos, que não vislumbramos o oceano de possibilidades que é a nossa vida.

– E não um deserto como você disse antes. Curioso...

– Poderíamos nos encontrar de novo e conversar mais um pouco? A gente lê sobre as descobertas da neurociência, mas acredito que esse exercício maiêutico é fundamental para ampliarmos nossos limites. Eu digo todos, pois entendi que mesmo com limitações físicas: paredes, deficiências ou outras coisas, podemos ampliar nossa percepção de nós mesmos, das outras pessoas e com isso, do mundo que nos cerca.

– Encontro marcado! Boa semana.

Notas:

1 – NACHMANOVITCH, 1993, p.79

2 – NACHMANOVITCH, 1993, p.84

3 – DALAI LAMA & CUTLER, 2000, p. 51

4 – NACHMANOVITCH, 1993, p.32

Imagem: Christina Brazil (nov/2016)

Referências:

NACHMANOVITCH, Stephen. Ser Criativo – o poder da improvisação na vida e na arte. São Paulo: Summus, 1993.

Sua Santidade O Dalai Lama e Howard C. Cutler. A Arte da Felicidade: um manual para a vida. Tradução de Waldéa Barrellos. São Paulo: Martins Fontes, 2000.


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