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  • Foto do escritorChristina Brazil

Diálogo entre dois Mundos – primeira parte.

Atualizado: 13 de abr. de 2020


Imagem de duas mãos que vem de direções opostas, e que se tocam levemente dentro da junção de dois círculos que se fundem: um amarelo e outro azul, representando dois mundos (desenho com lápis de cor aquarelável e giz pastel seco).

‒ Quem é você?

‒ Eu?

‒ Sim, não vejo outra pessoa nesta sala.

‒ Sou o resultado de minhas escolhas e das experiências que vivi até hoje.

‒ Como sempre evasiva... do quê ou de quem você se esconde?

Silêncio...

‒ Estou esperando uma resposta.

‒ Eu não tenho esta resposta agora. Preciso pensar.

‒ OK... mas continuo esperando.

‒ Preciso de ajuda...

‒ Apenas tire sua armadura, ao menos por um instante. Baixe o escudo... esqueça o mundo... ao menos por um instante.

‒ Não sei se sou uma Pessoa Portadora de Deficiência, se sou uma Pessoa com Necessidades Especiais ou apenas uma Pessoa com Deficiência.

‒ Sem ironia, por favor...

‒ Não estou sendo irônica. De forma alguma. Mas sou uma pessoa que diariamente se afoga em conceitos e imagens deturpadas, inacabadas e estereotipadas. Vivo em uma sociedade dicotômica ‒ deficiente x eficiente ‒ que categoriza e tipifica os sujeitos de forma indiscriminada e superficial.

‒ Você realmente é difícil.

‒ Se eu fosse fácil, não teria sequer me alfabetizado. Teria parado na primeira barreira, quando entendi que eu era diferente. Bem... se você espera uma resposta pronta, não terá. A única forma de saber quem sou é entrar no meu mundo.

‒ Mas isso é impossível.

‒ Impossível.. então me explica o porquê de vocês, pessoas "normais", me obrigarem a me ajustar ao seu mundo, com os seus parâmetros... se você quer uma resposta pronta, então lá vai: eu sou o que você mais tem medo: a doença, a incapacidade, o feio... e ao mesmo tempo o que você mais almeja: a superação... Satisfeito?

Silêncio...

‒ Agora quem precisa de tempo sou eu...

‒ Não tente desmontar o que você não será capaz de remontar... se queres me conhecer além da armadura, o caminho não é esse. Eu preciso dela para continuar viva em uma sociedade que mata o sonho do outro para vender os seus, em que o estigmatizado é torturado até a última gota de lágrima.

‒ Só fiz uma pergunta, não precisa me jogar pedras...

‒ Não joguei pedras, apenas te disse a verdade... viu como tenho razão, agora quem está sendo evasivo é você. Faço um convite, venha passear no meu mundo e você tirará suas conclusões...

‒ Sem armaduras?

‒ Sem armaduras...

Notas:


* O texto original foi publicado em 08/07/2014 no Tumblr (http://inclusaocec.tumblr.com/)

** Imagem by Christina Brazil (fev/2017)



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