Faz sete anos que publiquei no Tumblr o texto "Um quase conto e seu contraponto" (BRAZIL, 2014), não darei spoiler, mas gostaria de tecer alguns comentários e te instigar a pensar em algumas coisas, ainda tão atuais.
Com algumas leituras que fiz nestes últimos anos pude entender que a nossa capacidade de crescimento está diretamente relacionada com a capacidade de interiorizar-se e de assumir responsabilidade pessoal, deste modo, "se encararmos eternamente nossa vida como um problema causado pelos outros, um problema a ser 'resolvido', mudança nenhuma ocorrerá. Se não tivermos coragem suficiente não poderemos realizar nenhuma revisão" (HOLLIS, 1995 p. 10) e que segundo Jung, esse trabalho de crescimento pessoal "consiste em três partes: insight, persistência e ação" (JUNG,1973 apud HOLLIS, 1995 p.10).
O texto que trago, com exemplos reais e alegorias, representa parte de minhas experiências, momentos difíceis, delicados, mas que sem dúvida, foram necessários ao meu crescimento.
Este quase conto está gravado nas páginas do meu Livro da Vida, um dos vários capítulos que só foram encerrados com insights, persistência e ação.
Boa leitura...
Uma moça chega desacordada a emergência de um hospital, em meio à correria para salvar a vida da vítima, banhada em um “mar” de sangue, que aparentemente caracterizaria como uma hemorragia classe IV. Por alguns instantes a paciente dá sinais de lucidez, neste momento, o médico aproveita para saber o que ocorreu:
– O que aconteceu com você moça? De onde vem tanto sangue? – O médico pergunta.
– Minha Alma, doutor – ela responde – esfaquearam minha Alma... mais uma vez – neste momento a moça vira ligeiramente a cabeça para o outro lado, seus olhos em lágrimas fitam o infinito... Diante do sofrimento da moça e sem muito o que fazer, o médico, com o intuito de confortá-la, pergunta o que poderia fazer para aliviar seu sofrimento e ela responde:
– Nada doutor, é dor da Alma. O que o senhor vê, são meus Sonhos que se esvaem...
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Uma pessoa, jovem há muito mais tempo que eu, certa vez me disse: – Antes Morrer, do que perder a Esperança. – Morrer aqui significa perder gradualmente a força física, a capacidade de lutar e a Esperança, nada mais é do que ir até o fim, ou melhor, ir além, transmutar. Parafraseando a máxima do filme Star Trek: audaciosamente fazer o que nenhum homem jamais fez*.
O leitor deve estar pensando que sou audaciosa. Sim... concordo, sou Valente. Posso não ter a influência de um capitão em sua nave, posso não ser gerente, diretora ou presidente. Mas isso não importa. O que importa são minhas aspirações porque, como certa vez disse um Sábio: – para o alto se dirige a flecha e no alto deixa os seus sinais.
Repito: não aceito e não me acostumo "a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não a das janelas ao redor. E, por não ter vista, logo me acostumar a não olhar para fora. E, por não olhar para fora, logo me acostumar a não abrir de todo as cortinas. E, por não abrir as cortinas, logo me acostumar a acender mais cedo a luz. E, na medida em que se acostuma, esquece-se o sol, esquece-se o ar, esquece-se a amplidão" (COLASANTI, 2013, s/p).
Essa semana fiz um estudo sobre o panorama da contratação de pessoas com deficiência para uma empresa, e ao entregar o pequeno estudo, literalmente, fui menosprezada. Ao fitar as primeiras palavras, a pessoa disse que não ia ler e fez piada, pelo simples fato daquilo não ser da conta dela. Pois é, talvez, seja mais fácil menosprezar o trabalho do outro do que enfrentar o problema. Essa mesma pessoa certa vez, no fim do dia, ao sairmos de um prédio me disse: – Christina Brazil, tome muito cuidado! – e foi embora. Menos de um minuto depois me deparei com a cena que originou o aviso: um caminhão da Comlurb, com vários conteiners, muito lixo espalhado no chão e um espaço mínimo para se passar no meio de tudo. Ajudar uma pessoa com deficiência visual também não deve ser da conta dessa pessoa. Para este tipo de pessoa o aviso, por si só, é suficiente. A Ação de ajudar não é necessária...
Eu não me acostumo com o estigma, com o descaso, mas não posso levar determinadas atitudes a ferro e fogo. Por isso, mais uma vez recorro ao Sábio supracitado que me ensinou que "nem sempre é pecado o fato de errar... Resta saber se o erro é consciente ou inconsciente, pois a humanidade caminha ou evolui caindo e levantando, errando e procurando desmanchar o erro, até alcançar o fim de sua evolução"**.
Por isso acredito que confrontar a realidade, (re)construir paradigmas, mostrar que a realidade pode ser diferente, transmitir/construir conhecimento, seja a solução, mas isso através da ação, do exemplo...
As Aspirações voam com asas de chamas, como flechas inflamadas, que rasgam, na noite, caminhos de luz, iluminando assim o Invisível e apontando a Verdade aos incautos.
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Espantado com a aparente fragilidade da moça, que estava em seu leito de morte, e ao mesmo tempo, com a Força da Vida da jovem, o médico diz:
– Mas porque você ainda insiste? Isso só te traz sofrimento. – com um leve sorriso, ela responde:
– Já não sinto mais a dor física, doutor, só há a da Alma... e onde já estou, nada nem ninguém pode me atingir... faço isso para que os outros não precisem passar pelo o que eu passei...
Amigo(a) leitor(a) traga à tona a Coragem e a Fé, pois a Fé te dará a esperança para Sonhar e a Coragem te dará a Força para buscar sua Felicidade.
Seja Feliz e que teus sonhos sejam tua Realidade.
Boa Semana.
Notas:
* No filme Star Trek a missão da USS Enterprise era ir audaciosamente aonde nenhum homem jamais esteve.
** Excerto extraído do livro O Pequeno Oráculo escrito por José Henrique de Souza (JHS).
Referências:
BRAZIL, Christina Holmes. Um quase conto e seu contraponto. Site Inclusão: casos e causos (Tumblr). Publicado em 20 de janeiro de 2014, 2014. Disponível em: https://inclusaocec-blog.tumblr.com/post/73902528394/um-quase-conto-e-seu-contraponto Acesso em 16/01/2021
COLASANTI, Marina. Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. Disponível em: http://www.releituras.com/mcolasanti_eusei_imp.asp Acesso em 03 de dezembro de 2013.
HOLLIS, James. A Passagem do Meio: da miséria ao significado na meia-idade. São Paulo: Paulus, 1995.
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